terça-feira, junho 06, 2006

Fidelidade


Queridas deusas e deuses,

Aqui vai um tema para debatermos....

Ao contrário das tradições, a fidelidade ainda é o que era: nunca existiu. Um vínculo amoroso não pressupõe uma relação de castidade com a vida e, mesmo que não pequemos por actos, pecamos seguramente, por pensamentos e omissões. (...)

Quando alguém entra na nossa vida nunca mais sai, nem com "ordem de despejo". E se à primeira vista, existirá, por fora, para cada um de nós, uma relação monogâmica, por dentro, convivemos com todas as pessoas com quem tenhamos tido uma relação (mesmo que imaginária). (...)

Num sentido fundamentalista, a fidelidade é estranha à natureza humana. Os apelos de uma nova relação fazem-se de desejo, mas também de curiosidade e de esperança. Umas vezes, «atropelam-se»; noutras vivem em harmonia. (...)

Não desistirmos de uma pessoa apesar da pluralidade de relações com que tenhamos crescido, não nos transforma numa espécie em vias de extinção, até porque «saltarmos» de relação em relação pode significar, implicitamente, que a pessoa com que nos imaginamos não existe, senão nos nossos sonhos, como espelho mágico de nós próprios.

Amar não é pecado. O amor é ao contrário do Grilo Falante de Pinóquio (recomenda-se que vivamos primeiro e pensemos depois) e, surpreenderia até o espelho da madrasta de Branca de Neve, nos seus melhores dias, porque (sem perguntarmos) nos revela mais bonitos do que, alguma vez, nos ousámos imaginar.


Quando se ama não é para sempre.....mas para além de sempre. Para além de sempre talvez fique a eternidade, que será uma espécie de lugar que nos transforma nos protagonistas do presente de quem amamos (...).

Um grande amor não nos empurra para uma relação de castidade para com a vida, mas transforma a pessoa de quem gostamos num «sol portátil» que nos ilumina e nos acalenta. Em verdade, talvez nunca sejamos fieis a uma pessoa mas a um grande amor por ela. Ser-se fiel ao amor não nos empurra para uma insubmissão canina, mas para contradições lúcidas que estimulem as nossas convicções e que encontrem, no olhar de alguém, a sua liberdade.

(Apanhar sol por dentro - Eduardo Sá em "A vida não se aprende nos livros")

10 comentários:

Anónimo disse...

Olá Lindas, ...
Concordo plenamente... Quem escreveu estas passagens estava verdadeiramente iluminado/inspirado...

Sem mais de momento,

Bjs

Anónimo disse...

A vulgaridade das ideias que percorrem o texto de Eduardo Sá, embrulhadas em xarope delicodoce, está ao nível da literatura light que inunda o mercado do livro em Portugal. Cada povo tem os "iluminados" que merece.

maria disse...

Eh, lá!
Um rui com preconceitos intelectuais?
Qualquer livro ou texto é a expressão de um pensamento. Dá para o debate e para a especulação filosófica. Se não, vejamos. E, comecemos.
O que é a Fidelidade?
O que é o amor?
O que é um vinculo amoroso?
O que é " castidade para a vida"?
E, " ser fiel ao amor"?
Não sei quem é o Eduardo Sá, já outro dia perguntei e ng me respondeu.Que usa muitas "expressões feitas"...é verdade.
Mas, não dá para debate?....dá sim...
E... "Rui said" acaba de parafrasear um editor já falecido que nos anos 70 disse : Cada povo tem o Dali que merece" quando um jornalista lhe perguntou se era o Dali português. :)

ines disse...

Boa Maria! O objectivo é exactamente estimular o debate de ideias sobre o tema, que me pareceu suficientemente interessante...o problema é que debater temas como o amor, o sexo e a fidelidade, exigem abertura e capacidade de partilha, sendo mais fácil esconder aquilo que somos e que sentimos, lançando criticas ao autor, pior ainda, a todos nós, do que partilhares connosco a tua opinião sobre o tema em si, não é verdade querido Rui?

Anónimo disse...

Queridos todos: lindas, rui, maria, inês e todos os
Outros que ainda aqui não estão.

Ideias vulgares? Não acho nada!
Obrigam-nos a olhar para o tema em debate com vários óculos , de várias marcas, e a espreitar por cada um de cada vez e ... no final fazermos a integração das várias percepções e reflexões que nos surjam.

Porque não respeitar quem pensa com os seus preconceitos, sem preconceitos? Afinal onde está o respeito pela diversidade e pluralidade de ideias?

Mas sinto que quem agride como o rui é porque não se permite a si próprio a liberdade de, pelo menos, explorar uma outra forma de pensar.

Não será possível abordarmos a infidelidade através de um novo olhar, discutirmos isso civilizadamente com todo o respeito entre as mais diversas opiniões?

O mundo não é a preto e branco, Queridas

ines disse...

Viva a diversidade e a pluralidade de ideias! Só que me parece que nos estamos a afastar do debate do tema em si.

Por falar nisso, acabo de reparar que embora tenha sugerido o debate não dei a minha opinião. Sendo o mais simplicista que posso, tendo em conta a complexidade do tema, aqui vai o que eu sinto:

Amor: Mantem-nos vivos e é fundamental!

Sexo: É muito bom!

Amor e sexo: Se possivel, melhor ainda.

Fidelidade: Acima de tudo a nós próprios!

Pintem agora o tema com as vossas cores e digam o que vos vai na alma. Bjs

maria disse...

De tudo o que foi dito, o que mais gostei foi:
"Em verdade, talvez nunca sejamos fiéis a uma pessoa mas a um grande amor por ela".
e
"Porque não respeitar quem pensa com os seus preconceitos, sem preconceitos?".

Não me pareceu nada mal o texto do tal Eduardo de Sá em termos de conteúdo;na forma vejo-me obrigada a concordar com o Rui, se bem que Rui ( e isto é para ele(a)): um pouco mais de despretensiossismo na s(t)ua "forma literária" não ficasse mal.
Mas aqui o que interessa mesmo é o tema e acho que os dados estão muito bem lançados... haja jogadores à altura!
Há um problema grande no que concerne o conceito de fidelidade (na minha opinião, conceito artificial)que é o sentimento de posse que por sua vez leva a sentimentos ainda menos nobres como o ciúme, a raiva, a tristeza, o desespero, a obsessão, ect... Viram o "Eyes Wide Shut"? E aqueloutro com o Michael Douglas e a Glenn Close? É ou não é um conceito artificial?
O mesmo não se poderá dizer do sentimento: porquê ficarmos sofridos quando não existe exclusividade? Mas o certo é que ficamos, é uma verdade.
Mas tb terá a sua quota cultural, não? Como é que as culturas poligâmicas lidam com essa tal da fidelidade?

Bom: o que eu acho e o que não devemos esquecer é que Fidelidade, Exclusividade e Felicidade não são nem nunca serão sinónimos. E o que eu tenho aprendido é que devemos estar acima dessa ideia de exclusividade e devemos isso sim disfrutar desse "sol portátil que nos ilumina e nos acalenta".

Anónimo disse...

"Fidelidade =constância= duradouro". Até aqui tudo bem ,mas o que é duradouro também tem prazo de validade ; maior ou menor, tudo depende da forma como O tratamos e no limite poderá ser eterno . E só esse é fiel Todas as outras situações são aproximações à fidelidade Na verdade custa-me acreditar na fidelidade pura e aqui incluo a infidelidade por pensamentos.Não podemos esquecer que o Humano tem a benção de Adão e Eva . Não sei se eram fieis mas o certo é que nos condimentaram com aquela maldadezinha...que aceitamos com alguma intranquilidade . Desculpem a minha linguagem light...

papoila disse...

Fidelidade ...é como o x na matemática, depois de sabermos o valor dela ...não é preciso para nada.
Terminei uma relação de 20 anos com alguém que amava para além do corpo, para além da alma...por causa de infediliodade....hoje descobri que fiz mal e que as coisas podiam ter sido geridas de outra forma.
Estou de acordo com o escritor e acredito antes de mais que devemos isso sim ser fieis em primeiro lugar a nós mesmos, assumindo os nossos tesões...porque não?e até nos enriquecermos com eles, mantendo-nos vivos e activos.
Talvez me pareça que ainda tenhamos sim é que ser discretos, pois aí reside o nosso trunfo da liberdade e até porque luz de mais pode ofuscar e magoar muita gente ...e nós não queremos magoar ninguém...muito menos a pessoa que amamos de verdade...
beijosa todos ...
Papoila

Anónimo disse...

Olá meu povo!
Independentemente da minha simpatia ou não pelo texto.....gostaria de acrescentar a necessidade de esclarecer o que significa -fidelidade- no dicionário da Porto Editora, convenhamos que poderemos estar a falar atribuindo a palavra outros significados e assim a comunicação não pode acontecer. Aqui vai.....
-Qualidade do que é fiel.
-Rectidão Lealdade
-Constância, perseverança
-Exactidão, veracidade
-cumprimento dos compromissos de monogamia assumidos com cônjuge,companheiro,namorado.
Não contente fui ver o significado de fiel e aí encontrei a definição que melhor se adapta a uma escolha minha ,"uma certa forma de vida".
-Fiel- que é exacto ou verdadeiro em relação aquilo que pretende reflectir.
Fico por aqui !
ATÈ SEMPRE!
AIRAM