sexta-feira, junho 09, 2006

Metade

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é o silêncio.

Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço e a outra metade é o que calo.

Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste com o convívio comigo mesmo e se torne mais suportável.
Que o espelho reflicta em meu rosto o doce sorriso que me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba,

e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a plateia e a outra metade a canção.

E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metada…também.


Oswaldo Montenegro


Lindo Airam, obrigada!




1 comentário:

papoila disse...

Lindo poema...deliciei-me...obrigada