terça-feira, outubro 31, 2006



Memórias de infância

O som de gargalhadas infantis, a camisola de lã picando o corpo, o suor escorrendo pelo pescoço vindo de corridas loucas, a maciez do saquito sentida na polpa dos dedos. Desfilam por um túnel as recordações de infância.

" É dia do bolinho", "anda,anda" gritam as vozes. Em bando percorriamos as ruas, era dia 31/10. Batiamos às portas e largávamos a cantinela, com um sorriso largo que fazia doer os maxilares de tão prolongado.

As senhoras abriam a porta e gritávamos:

"Bolinhos e bolinhós

Para mim e para vós

Para dar aos finados

Qu'estão mortos, enterrados

À porta daquela cruz.

Truz! Truz! Truz!

A senhora que está lá dentro

Assentada num banquinho

Faz favor de s'alevantar

P´ra vir dar um tostãozinho."

Grande sorriso no rosto recebia a criançada. E, lá vinham com os bolinhos feitos de propósito para aquele dia e para os meninos, ou com nozes ou rebuçados ou amendoins.

Os sacos enchiam-se de guloseimas. E, lá iamos. Bate porta, trauteia a ladainha. Os sacos enchendo,enchendo. Até ao pôr-do-sol. Faces coradas, comendo "as coisas boas" até a náusea fazer parar....

"dia do Bolinho".... diziamos nós. " noite de haloween"....chamam-na , agora.

segunda-feira, outubro 30, 2006


'A Pequena Jerusalém' é como é conhecido o subúrbio de Paris habitado pela primeira geração de imigrantes judeus
Realizadora : karin Albon
Fixem este nome porque não é para esquecer.
Incluido no ciclo de cinema francês que passou no Cidade do Porto.
Filme excelente, que só podia ser realizado por uma mulher.
Conta-nos a estória de uma jovem judia de 18 anos, da sua dicotomia entre a religião e a filosofia.
Da xenofobia francesa, mas também da religião/contra religião.
Com uma sensibilidade feminina mostra-nos imagens de intensa paixão ( que fazem lembrar Elia Kazan). Transmite-nos a culpabilização/castração induzida na mulher pela "má" leitura da religião que induz à privação do prazer sexual.

quarta-feira, outubro 25, 2006

QUEM MATOU O AMOR?

Houve uma vez na história do mundo, um dia terrível em que o Ódio que é o rei dos maus sentimentos, dos defeitos e das más virtudes, convocou uma reunião urgente com todos eles.Todos os sentimentos escuros do mundo e os desejos mais perversos do coração humano chegaram a esta reunião com muita curiosidade para saber qual era o motivo desta reunião.
Quando todos já estavam lá, falou o Ódio:"Reuni-vos aqui a todos porque desejo com todas as minhas forças matar alguém".Todos ali não estranharam muito, pois era o Ódio quem estava falando e ele sempre quer matar alguém, mas, todos se perguntavam, quem seria tão difícil de matar que o Ódio necessitava da ajuda de todos.
"Quero matar o Amor" - disse.
Muitos sorriram com maldade, pois mais de um ali tinha a mesma vontade.O primeiro voluntário foi o Mau Carácter, que disse:"Eu irei e podem ter certeza que num ano o Amor terá morrido, provocarei tal discórdia e raiva que não vai suportar".Depois de um ano se reuniram outra vez e ao escutar o relato do Mau Carácter ficaram decepcionados."Eu sinto muito, bem que tentei de tudo, mas cada vez que eu semeava discórdia, o Amor superava e seguia seu caminho".
Foi então que muito rapidamente se ofereceu a Ambição, fazendo alarde de seu poder:"Já que o Mau Carácter fracassou, irei eu. Desviarei a atenção do Amor, com o desejo por riqueza e pelo poder, isso ele nunca irá ignorar". E começou a Ambição o ataque contra sua vítima, que efectivamente caiu ferida, mas depois de lutar encontrou a cura, renunciando a todo desejo exagerado de poder e triunfo.
Furioso o Ódio enviou os Ciúmes, estes bufões perversos inventaram todo tipo de artimanhas e situações para confundir o Amor com dúvidas e suspeitas infundadas, mas o Amor confuso chorou e pensou que não queria morrer e com valentia e força impôs-se sobre eles e venceu. Ano após ano, o Ódio prosseguiu a sua luta enviando a Frieza, o Egoísmo, a Indiferença, a Pobreza, a Enfermidade e a muitos outros que fracassaram sempre.
O Ódio, convencido de que o Amor era invencível, disse isso aos demais:"Nada pude fazer, O Amor suportou tudo, levamos muitos anos insistindo e não conseguimos".
De repente de um cantinho do auditório levantou-se um sentimento pouco conhecido e que se vestia todo de preto com um chapéu gigante que escondia seu rosto.De aspecto fúnebre como o da morte"Eu matarei o Amor", disse com segurança.Todos se perguntavam quem era aquele que pretendia fazer, sozinho, o que nenhum deles tinha conseguido. O Ódio disse: "Vá e faça".Havia passado pouco tempo, quando o Ódio voltou a convocar a todos para comunicar-lhes que finalmente o Amor morrera.Todos estavam felizes mas também surpresos. E o sentimento do chapéu preto falou: Aqui vos entrego o Amor, totalmente morto e esquartejado. E sem dizer mais nada já estava saindo."Espera.... - disse o Ódio - Em tão pouco tempo você eliminou-ocompletamente, deixando-o desesperado e por isso mesmo não fez o menor esforço para viver! Quem é você?".O sentimento pela primeira vez levantou seu horrível rosto e disse:"Sou a Rotina".

domingo, outubro 22, 2006

Apita o comboio


Lá vai a apitar....


Apita o comboio.....






à beira do rio...




uma vez mais as deusas e deuses foram ao céu, num dia onde o sol brilhou dentro de nós .....

domingo, outubro 15, 2006



do sono cai-te prostrada

a cabeça

sem que no corpo mais nada

adormeça

david mourão ferreira



Uma névoa de mágoa muito antiga

torna-te às vezes quase inantingivel

David Mourão Ferreira

sábado, outubro 14, 2006

MULHERES PORTUGUESAS : SARA AFONSO


Sarah Afonso (13 de Maio de 1899-1983), pintora e ilustradora portuguesa, foi casada com Almada Negreiros.

Sarah nasceu em Lisboa no seio de uma família burguesa, o seu pai era oficial do Exército e sua mãe Alexandrina Gomes Afonso. Viveu a sua juventude no Minho, que a inspirou para uma temática popular de grande beleza e ingenuidade. Em 1924, solteira, parte sozinha para Paris, depois de se ter formado na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, tendo sido uma das últimas alunas do pintor Columbano Bordalo Pinheiro. Paris foi uma experiência marcante. Ali expôs com sucesso no Salon d'Automne. Entre 1928 e 1929, trabalhou no atelier de uma modista fazendo croquis de moda, gosto que lhe ficou, tendo colaborado mais tarde com desenhos de moda para revistas portuguesas. Contra todas as convençõs torna-se a primeira mulher a frequentar o café A Brasileira do Chiado, então exclusiva do sexo masculino. Contemporânea de Bernardo Marques, Carlos Botelho e outros. Expôs no primeiro Salão de Artistas Independentes em 1930. Casou aos 35 anos com José de Almada Negreiros, tendo conciliado a vida de mãe de família e de pintora. Fez uma exposição individual, em 1939 e participou na Exposição do Mundo Português, em 1940. Em 1944 recebeu o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. Em 1953 integrou a delegação portuguesa à Bienal de São Paulo. Dedicou especial atenção às festas populares e às tradições portuguesas em cores doces e luminosas. Por ocasião do centenário do seu nascimento, em 1999, realizaram-se exposições comemorativas em Viana do Castelo e Porto.

terça-feira, outubro 10, 2006

Não deixem a chuva estragar os vossos planos de fim-de-semana...

As deusas meteram-se à estrada, desta vez até Melgaço e vejam
o que descobriram num fim de semana de chuva:


A Beleza de um dia de chuva.


O encontro e a integração perfeita com a Natureza que nos rodeia.


O Silêncio e a descoberta da outra metade (afinal todo o tempo dentro de si ...)





Umas termas lindas, finalmente a serem dignamente recuperadas pela UNICER

Tudo isto seguido de um maravilhoso passeio pelo Parque Nacional da Peneda Gerês (com sol e chuva) e de uma visita ao Castelo de Lindoso, tirado de um conto de fadas.