Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Saiu de casade madrugada;
r egressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,de pele queimada
leva a lancheira desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa,sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova,desenxovalhada,
tem perna gorda,bem torneada.
Ferve-lhe o sanguede afogueada;
saltam-lhe os peitos na caminhada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas,rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,Luísa, sobe
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,
toca a sineta na hora aprazada,
corre à cantina, volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
António Gedeão
quinta-feira, março 08, 2007
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1 comentário:
Já viram quão priveligiadas somos?
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