sexta-feira, agosto 10, 2007

O princípio das minhas viagens....

... Em frente à minha janela um outdoor anuncia - DALÍ - uma exposição no Palácio do Freixo. Dalí e imagens cruzam o meu banco de memórias. "Não gosto"sentencia a fonte dos "gostos & aversões". E tudo fica como antes.

De repente em frente ao mar... dalí, porque não? e porque não treino a minha capacidade de me surpreender e suspendo juízos e ideias digeridas de um qualquer crítico ou livro de generalidades!

Como tornar-me receptiva a este personagem de olhos esbugalhados e bigodes ao contrário? Poderia começar a dissertar sobre o que é arte e talvez não saísse daqui!

Escolho pensar a arte como Manifestação Divina. A partir daí uma esperança cresce dentro de mim, vou pelo menos colocar-me frente á obra deste senhor e deixar-me percorrer pelo Divino que ele transparece. Acordo feito.

Ah! Vamos à exposição encontrar harmonia/harmonias, em dalí.

Com o propósito definido, pés ao caminho, ou melhor rodas no asfalto, rumo ao Palácio de Freixo. Já dentro deste esplendoroso palácio acedo a biografia e a resmungar os 4,00 euros de entrada que me ofereceram. Observo a manifestação da minha veia de anarca, em defesa da cultura para todos... enfim outra questões.

E, eis então que me permito pousar os olhos na obra do senhor, que inicia com trabalhos de ilustração de um livro de Apolinaire e lá vou indo.... fui ficando primeiro perplexa, por não reconhecer ali o dalí da minha memória e concomitantemente perceber vários dalís, tal como me tenho vindo a descobrir. Múltipla na expressão embora una na essência.

De perplexa, passei a"siderada" e completamente seduzida por "Os Amores de Cassandra", ilustração de uma obra de Ronsard e outras pinturas "Nu" "Fada"... e assim fui percorrendo com os olhos da minha alma os traços que me permitissem chegar ao zénite do meu deleite."Rei espero-te na Babilónia","Cidade Perfumada" eu sei lá ... deixei de tomar notas, para me embriagar absolutamente no sentido da visão.

Mas, eis que paralelamente ia apreciando o entorno palaciano restaurado, o meu corpo doía de tanta emoção...uma janela aberta sobre o rio á noite,onde a paz e as luzes nos presenteiam com um espaço de descanso!

Respiro o rio e o contexto bucólico - romântico, com o meu amado! Cena perfeita que dura apenas o espaço de segundos. Desfrutei.

Retorno a exposição, a escultura chama-me atenção: "Venús que sobe a escada", se o título não corresponder, perdoem-me. LINDO! Claro que o texto que acompanhava a escultura estava muito bem escrito e ajudou. Prometi na próxima escultura não ler o texto no princípio e sim no final. O exercício da minha liberdade era importante!

Novamente me rendi a dalí no "Homem que monta o golfinho", deliciei-me a perceber essa harmonia - homem/golfinho - sobejamente reconhecida, mas que ali apresentava contornos...Vá lá e veja!

Passei então as ilustrações da Bíblia e eis que ..."me volvo loca" com as cores. Transportam-me para lugares de uma subtileza tal que termino a sentir-me pousada num nenufar... flutuando. Esta foi e apoteose!

Retirei-me sem terminar de ver a exposição, pois há limites também para as emoções.... Saí agradecendo a Dalí! a quem teve a visão e acção de o trazer até nós! Fiquei disposta a regressar com as minhas filhas, desta feita ao entardecer.

Benditos os que conseguem contagiar-nos com o divino....
Lembrei-me então de um outro espanhol que tanto me tocou. Gaudí.
Mas isso é outra história.

4 comentários:

LuaDmarfim disse...

Ia esperar por Setembro para ver esta exposição mas abriste-me de tal forma o "apetite de arte" que não sei se resisto a deixar passar o fim de semana sem lá ir. Bjs

Anónimo disse...

Airam querida,

Fiquei muito mais seduzida pelo teu texto inebriante... Escreves mesmo bem! É um desperdício não dares a conhecer esse teu talento ao mundo.

Bj grande da Borboleta

verde disse...

Adorei o post. Dalí maravilhou-me muito em tempos e também me proporcionou momentos de deleite que não esqueço. Talvez por isso, não estava a pensar ir ver esta exposição, por já ter visto tanto...pensei estar em ressaca de uma embriaguez de Dali :)))) Mas este teu post fez-me lembrar esses momentos de deslumbre, de me perder nos conceitos e mensagens por detrás de cada quadro dele. Afinal também lá vou! Obrigada Airam, pelo post, pela partilha,...

papoila disse...

Nunca foi o meu pintor de eleição, como tu mesmo dizes ...aqueles bigodes ....ahahah
Mas acho que não lhe vou resistir e tenho que ir espreitar
obrigada pela partilha e entusiasmo