terça-feira, setembro 25, 2007

Encontro com Dalai Lama

Obrigada a todos os que me proporcionaram e facilitaram este encontro!
Obrigada aos meus alunos por prontamente acolherem a ideia de eu ir e adequarem os seus ritmos para poderem fazer as suas práticas.

Lá vou eu para Lisboa…na mochila a expectativa de aprender, de “estar com” para poder “Ser”.

Como sempre acontece, no decorrer do ensinamento vou-me apercebendo que a tradução é feita de forma compacta. Após sua Santidade ter falado em tibetano, os ingleses, espanhóis e franceses, tinham tradução directa, os portugueses tinham de aguardar pela tradução…claro, pensamentos nacionalistas, alguma irritação… pois numa circunstância destas, são importantes os exemplos e as histórias que são contadas, mas que não nos chegavam.

Dalai Lama é uma pessoa simples, sorridente e sempre pronta a tecer um comentário, que dava azo à gargalhada de quem percebia; eu contentei-me em perceber que talvez na próxima encarnação pudesse entender e fiquei a observar-me e a observar.

Reagi às novas circunstâncias, ocorrendo-me alguns pensamentos de frustração…mas o ser humano adapta-se a situações extremas, o que não era o caso. Logo fui ficando familiarizada com as condições e tentando seguir o propósito que me tinha feito viajar.

Aprendi, assim que fui tomando notas e fui ficando receptiva a tudo o que ali se passava. Testemunhei vários posicionamentos de fé e cumprimento de rituais e a postura de pessoas que apenas ali estavam de forma receptiva para ouvir, como eu.

Constatadas as limitações que me estava a impor, foi fácil ficar atenta e tomar notas. Tendo compreendido que por ser uma tradição, tudo nos foi apresentado de forma simples, dentro da mesma complexidade que é. Não querendo recriar a complexidade, que podem constatar nos livros sobre a matéria “budismo tibetano”, apenas queria partilhar convosco os ensinamentos que me relembraram o que já sabia! Permitindo que as palavras ouvidas tocassem a sabedoria que todos dispomos.

O conjunto de ensinamentos em questão, tinha por base Bodhichitta – puja – prática – segundo o mestre Nagarjuna, sábio budista do Séc. II d.c.. Dalai Lama iniciou os ensinamentos referindo que existem diferentes tradições segundo cada indivíduo. “As diferentes vias são diferentes remédios que visam curar as mesmas feridas”

O ensinamento acerca dos nossos “inimigos”

A mente produz dois pensamentos:

- O que acontece de bom aos nossos amigos alegra-nos
- O que acontece de bom aos nossos inimigos torna-nos descontentes

Perante esta constatação devemos procurar as medidas apropriadas e superar este pensamento, tornando-nos equânimes.

A ideia de inimigo é uma construção que contraria a ideia de vacuidade (conceito que sendo complexo eu percebi como sermos todos “Um” e estarmos todos ligados), aparece muitas vezes quando ainda estamos num processo de separabilidade, onde os outros ainda não se entrelaçam connosco.

Mas afinal quem é o inimigo?
Aquele que sentimos que nos prejudica!

Mas o inimigo não nos prejudica desde o ventre materno, existiram causas e condições que o levaram a isso, e portanto torna-se inimigo involuntariamente.

Um inimigo apenas é um ser, que como cada um de nós procura a felicidade, sair do sofrimento, e que se encontra sobre causas e condições.

Devemos separar, o Actor das Acções, combater a Acção e manter o Amor em relação ao Actor. Assim, exercitamos a compaixão universal, focada nas pessoas e não nas acções, reconhecendo o desejo nato de felicidade a todos os seres. Quantas vezes as situações ou pessoas que nos parecem inimigos nos proporcionam benefícios?....e as situações adversas? Quando nos encontramos numa situação adversa, não vale a pena ficarmos a pensar sobre isso, apenas devemos perceber quais as causas e condições que nos conduzem à superação da situação.

A ira que muitas vezes sentimos, impossibilita-nos, perturba a Paz interior e prejudica os outros. O antídoto para a ira é a paciência que pode ser de três tipos:

- Não responder a quem nos prejudica
- Ser capaz de suportar o sofrimento
- Conseguir deter a ira

O ensinamento acerca das emoções


Para podermos usufruir da vida de forma a extrair o máximo proveito devemos eliminar as emoções conflituosas, que são os nossos inimigos internos.

As emoções conflituosas geram acção, que por sua vez perturbam a nossa paz e a dos outros, impedindo-nos de abraçar as causas da virtude! Estas emoções não são naturais pois não são a verdadeira essência da nossa mente. A verdadeira natureza da mente é a luminosidade.

As aflições causadas pelas emoções negativas são condicionadas pelo apego à noção do que é verdadeiro. O apego é uma distorção. A irradicação, quer das emoções negativas, quer das aflições, está no cultivar estados mentais contrários a essas emoções.

IRA – COMPAIXÃO – PACIÊNCIA
Uma análise mais profunda das emoções leva-nos a compreender que elas dependem de causas; não são a natureza da mente. É preciso ter coragem para conhecer a natureza da mente, para eliminar o medo.

Na base do sofrimento humano está a ignorância, emoções negativas e as emoções subtis. Dalai Lama, exorta-nos a cultivar o entusiasmo, que significa a alegria posta no esforço de objectivos saudáveis. Com entusiasmo, o que inicialmente parece difícil, gradualmente se tornará mais fácil.

E para finalizar, o propósito que Sua Santidade cultiva: “enquanto existirem seres sensíveis, possa eu ser a felicidade de todos os seres”. Este propósito remete-me para o mantra sagrado “Loka samasta sukhino bhavantu” - “Que todos os Seres possam ser felizes”.

NAMASTÉ

Airam

3 comentários:

papoila disse...

maravilhosa partilha
obrigada por esta partilha com Dalai Lama através de ti
enrequeci me ao ler-te...

borboleta disse...

Foi bom ter estado em Lisboa, não com a mochila e sem a tradução, mas contigo, Airam!

Obrigada

maria disse...

Obrigada pela partilha.
Grandes ensinamentos