(...)O vegetarianismo é um exemplo de como pôr em prática o valor por ahimsa (não violência ou não ofensa).
Muitos argumentos a favor da dieta vegetariana podem ser apresentados, mas o argumento básico que apoia a alimentação sem carne é simplesmente ahimsa.
Na Índia, onde existem mais vegetarianos do que que em qualquer parte do mundo, o vegetarianismo é baseado directamente na tradição védica: Himsan na kuryat (não cause dano)
Por que comer um ovo envolve mais ahimsa do que comer uma beringela?
E um bife a uma abóbora?
Todas as formas de vida necessitam de algum tipo de alimento.
Uma forma de vida alimenta-se de outra. O que é uma tragédia para o pássaro é o jantar para o gato. Sendo este o caso por que não devería o ser humano comer carne? Porque o ser humano não está na mesma categoria sem escolha, como o gato comedor de canários. Ele não pode usar o exemplo do gato como justificativa. Para o gato e outras formas de vida não-humanas, escolher o que comer para o jantar não é problema. Eles seleccionam o seu alimento apropriado por instinto. Eles vem pré-programados, sabendo o que devem comer, somente precisam localizá-lo. O mesmo não se dá com o ser humano que sendo autoconsciente, traz consigo uma livre escolha para determinar diferentes meios para alcançar os objectivos da vida, o que inclui a necessidade básica, o alimento. Não sendo pré-programado, o ser humano deve escolher o tipo de alimento que come. (...)
Todas as criaturas buscam viver livres de sofrimento
É simples ver que todos os seres humanos dão valor à vida. Qualquer ser vivo tenta permanecer vivo, inclusivé as plantas e outras formas elementares de vida. Entretando, também é evidente que todos os seres não parecem ter o mesmo nível relativo de consciência da vida, a mesma habilidade consciente de perceber ameaças à vida ou de lutar para preservá-la. As criaturas no reino animal estão mais perto dos seres humanos do que as plantas no que diz respeito à consciência das ameaças à vida e na sua luta para permanecerem vivas. Animais, pássaros, peixes e todas as criaturas móveis fogem de mim quando sabem que as estou a tentar apanhar para a panela. Quando as consigo agarrar, lutam e gritam. Portanto, não há como não saber que elas não querem ser feridas, que querem viver. Nenhuma criatura móvel quer ser o meu jantar. Uma vez que me foi dado livre arbítrio para escolher o alimento que como para me manter vivo, preciso encontrar alguma norma para me guiar na escolha dessa comida. A dádiva da livre escolha traz consigo a responsabilidade de seguir uma norma ética no exercício dessa escolha. Qual é a norma "dhármica" e de bom senso para a escolha do meu alimento? Os Vedas dizem-me: não cause dano. O meu bom senso diz-me que não deveria fazer de "alguém" o meu jantar, uma vez que não quero ser o jantar de "alguém". O que é um "alguém"? As criaturas vivas que possuem meios para fugir de mim e o equipamento para gritar em protesto ou lutar contra mim são mais um "alguém" do que plantas, enraizadas num lugar que silenciosamente abandonam os seus frutos para serem comidos, em geral, sem isso abdicar das suas vidas.
A escolha ético-racional para a dieta humana
Devido às pesquisas que indicam que uma alimentação vegetariana balanceada é completa e saudável, o uso da carne na dieta não pode ser justificado com base na necessidade nutricional. Se opto por comer carne, esta opção deve ser entendida simplesmente como uma preferência minha. Não há problema em satisfazer essa preferência se não existe nenhuma razão dominante indicando o contrário. No caso de comer carne, existe uma forte razão ética de bom senso para não satisfazer essa preferência, se ela existe.(...) Se insisto em incluir carne na minha dieta, elevando esta decisão ao status ético, deveria colocar-me na mesma condição dos outros animais carnívoros. Para estar na mesma condição eu deveria caçar e matar a minha presa com as mãos vazias, sem o auxílio de armas, expondo-me assim à possibilidade de ser o jantar de "alguém" enquanto procuro outras criaturas para serem o meu jantar. Se não tenciono agir assim, a utilização de animais como alimento será antiética, entrando em conflito com o meu valor parcial pela não violência. (...)
Ahimsa requer sensibilidade e atenção
O valor por ahimsa exige atenção e sensibilidade diárias em todas as áreas da minha vida. É um valor que se expressa na minha atitude em relação às plantas tanto quanto em relação aos seres humanos e aos animais. A destruição cruel da vida vegetal indica uma falta de sensibilidade ao valor ahimsa. Ahimsa é um valor pela não destruição ou não dano a qualquer parte da criação, a criação da qual também sou uma parte. Eu não esmago, desfolho, arranco ou derrubo negligentemente. Com relação aos meus companheiros seres humanos, fico atento às palavras, actos ou pensamentos que possam ser ofensivos. Desenvolvo uma apreciação mais subtil pelos sentimentos dos outros. Passo a ver além das minhas próprias necessidades, compreendendo as necessidades do outro à minha volta. (...)
O Valor dos Valores
Swami Dayananda Saraswati
2 comentários:
Não conheço as outras, nem quero fazer juízo de valores. Todas têm o seu valor, claro está. Mas daquilo que leio, e do que mais conforto me traz ao coração, tu és a melhor das Deusas, Inês.
;)
Todas diferentes, todas iguais...é bom saber que te levo conforto ao coração,obrigada.
Um abraço de sol
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