O pôr do sol de inverno espalha-se pela planície , há um silêncio de vozes, só o som sincopado dos sapatos batendo no cimento dos que te acompanham, como eu, à tua última morada. Como um mantra,repetitivo, igual, quase um japa. Acorda-me a memória, ali, onde és só tu. A tua figura marcante de origem goesa acompanhou-me a vida a espaços. Foste testemunha da minha vida e eu da tua desde os meus vinte anos. Comungámos os estudos, a profissão,o nascimento dos filhos, a dor , a alegria. De ti, homem de poucas palavras, sempre ponderadas e suaves , fica a imensa ternura, a aceitação total do ser humano, de que nunca ouvi uma crítica, somente a explicação; mesmo quando te magoavam, sómente compaixão. Vejo-te à minha espera, no teu jardim, num dos muitos fins de semana passados juntos. Esperavas-me, para me abraçar com ternura, recebendo-me como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. Davas-te com as refeições sensoriais da tua terra cuidadas ao pormenor, o vinho escolhido, o meio sorriso ternurento quando eu te provocava, desafiando os teus príncipios e valores conservadores, ou a tua fé e religião. Havia apenas uma mão compassiva sobre a minha cabeça, transmitindo a compreensão por outras vias que não eram as tuas. Criaste uma família, com a companheira que amavas e a quem trataste por diminutivo, até ao fim. Ah, que falta me vais fazer neste caminhar pela estrada, que saudade já sinto de descansar da turbulência no oasis que fizeste do teu lar. Até um dia, até um dia, Meu Amigo.
terça-feira, janeiro 02, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Comovente... lindo ser, gostava de ter conhecido.
Até sempre minha amiga, obrigada pela partilha.
Lamento, Maria, lamento profundamente a tua perda! E algo mais que eu pudesse dizer-te, já tu sabes! Um grande beijo
Como se deixa fugir Amigo assim?
Sou "Castanha"-andei perdida pelos blogs do mundo -tinha-vos perdido, acreditam?!!!, mas voltei
bastante sentido...
abraço
Enviar um comentário