domingo, abril 08, 2007

" felizmente não é natal"

"felizmente não é natal"- duas grandes actrizes - já idosas - dão corpo a uma peça da vida numa cena de teatro. Em tom risonho, abordam-se temas pesados : o que apelidam de solidão de velhice desaguada nos lares ( para endinheirados) e asilos( para pobres), o conflito relacional e amargo entre pais e filhos. O pano cai. A reflexão vem.
António Barreto em "Portugal - um retrato social" relatou, em tom amargo, e mórbido a solidão dos "nossos" velhos. A reflexão vem.
No Expresso, da semana passada aparece, num destacável, a publicidade de um novo jornal " As rugas ".A reflexão vem.
Três mulheres, de cabelo grisalho, após o cinema palmiham o Porto à procura de um local onde se possam sentar para debater o filme acabado de vêr e beber um chá ou um "copo". Inexistente. Locais com jovens, sempre. Onde estão os de meia-idade, interrogam-se.
E, assim, são os próprios fazedores do seu futuro que se isolam e guehtizam ( será que esta palavra existe?). Criando um jornal publicitando " assuntos", " viagens", etc,etc " especificos", para os acima de cinquenta! Arredando-os da partilha e comunhão dos interesses "especificos " abaixo dos cinquenta ! lentamente, criando toda a estrutura para a incomunicabilidade entre jovens e velhos, por falta de interesses comuns, de linguagem partilhada.
Pergunto-me, se eu não tivesse tido os "meus jovens" a dar-me a mão introduzindo-me no mundo cibernauta, a fazer-me sentar e "obrigar-me " a partilhar o último CD recém conhecido, o último livro lançado, o humor dos GF, a camisola mais "in", o " Sem + nem -"," o gira pratos", o "bairro alto", se os "meus jovens" não tivessem aturado " os mais velhos" divagando sobre a "nouvelle vague", os "doors ", a art pop, os clássicos, como seriam os nossos jantares e fins de tarde?

Não será que um dos motivos da "solidão" da velhice ( para além, do sempre imputado egoísmo) reside ,também, na não partilha de assuntos e temas, isolando-se cada geração no seu mundo, ao ponto de se tornar a comunicação impossível,saturante e amarga?

E, a solidão ( terrível ) dos jovens que se evadem no alcool, advirá de quê?

2 comentários:

ines disse...

Tocou-me profundamente o teu post. O comentário, de alguém que também já tem cabelos brancos, é que a solidão reside apenas na falta de amor, amor por nós próprios...e esta explicação é válida para jovens ou menos jovens. Costumam chamar-me "solitária", e sim, por vezes sinto-me só, felizmente para mim, na maior parte do tempo estou simplesmente comigo e como eu sou parte de um todo, como poderei estar só?

Anónimo disse...

As gerações subestimam-se. Os mais novos não se acreditam nos mais velhos e os mais velhos nos mais novos. As pessoas são cada vez mais individualistas e as relações dão trabalho. A solidão na velhice e os comportamentos mais ou menos desviantes na juventude são fenómenos com causas próximas, parece-me..
FDM