Estas palavras não são minhas, mas foram escritas por uma pessoa amiga que escreveu para um jornal. Como eu costumo dizer que pássaros da mesma asa voam juntos, achei por bem publicá-lo.
" Esta semana andei com vários nomes na minha cabeça. Umas vezes isoladamente, outras vezes em conjunto, mas andei. Martin Luther King, John Fitzgerald Kennedy, Robert Kennedy, Caroline Kennedy e Barack Obama. Este último por razões óbvias. Estes nomes fluíam, desapareciam, mas parecia faltar alguma coisa. É então que se dá o toque. Estava eu no final da tarde da passada sexta-feira em Serralves, a assistir ao lançamento de um livro, quando o palestrante, no âmbito do tema que tratava, se saiu com esta: “Nunca esqueçam, o mau é sempre a semente do bom.” Era sem dúvida a luz que me faltava!
Não admira que esta semana tenha sido dominada pela eleição do 44º. Presidente dos Estados Unidos da América. Pelo que essa eleição representa, pelo que ela simboliza em termos históricos, mas também pelas qualidades pessoais e politicas do candidato. Não lhe podemos retirar o mérito, porque todos nós, mesmo não sendo americanos, esperamos demasiado da sua acção.
Contudo, seria muito injusto, neste momento de tanto significado para a América e para o resto do mundo, esquecermos algumas pessoas. Por isso fui novamente à minha estante. Encontrei um livro fundamental na educação cívica de qualquer cidadão, editado em Março de 2003 pela Bizâncio, com o título Eu Tive um Sonho, a autobiografia de Martim Luther King. Trata-se de um livro maravilhoso. Recheado de episódios que compuseram a História do século XX e de inúmeras cartas onde está expresso o seu pensamento moral e cívico. Filho e neto de pregadores, como ele costumava dizer “não tinha muitas alternativas”. Mas era um pregador especial. Como a América era um país totalmente racista ele leu o ensaio de Henry David Thoreau “Sobre a Desobediência Civil” e começou a dizer às pessoas que “não colaborar com o mal é uma obrigação moral, tanto como colaborar com o bem”.
E aperfeiçoou aquilo que viria a ser uma das suas principais ferramentas na divulgação da sua mensagem. Dizia ele: “Tenho de ter sempre presente a necessidade de tornar simples o que é complexo.” Em suma, e para simplificar, ele abriu o caminho a Barack Obama e inspirou-lhe os passos. Ele também tinha colocado na parede do seu escritório uma foto de Gandhi. Porque afirmava e assumia o seguinte: “Foi nesta importância atribuída por Gandhi ao amor à não-violência que descobri o método para a reforma social que tanto procurava.”
A 23 de Junho de 1960 King encontrou-se pela primeira vez com o Senador John Fitzgerald Kennedy. Discutiu direitos civis com o candidato presidencial e a empatia entre ambos foi recíproca. Em Outubro desse mesmo ano King foi preso em Atlanta. O candidato presidencial e o seu irmão Robert Kennedy conseguiram obter a sua libertação sob fiança. A 11 de Junho de 1963 o Presidente John F.Kennedy anunciou uma nova proposta de lei dos direitos civis. A 28 de Agosto desse mesmo ano, em Washington, King falou aos participantes na Marcha Sobre Washington pelo Emprego e pela Liberdade. A 22 de Novembro desse mesmo ano o Presidente Kennedy foi assassinado. Nessa mesma data King afirmou: “A desumanidade do homem para com o homem não é apenas perpetrada pelas acções virulentas dos maus. Também é perpetrada pela nefasta inacção dos bons.”
Por isso, o palestrante de Serralves tinha razão. “O Mau é a Semente do Bom.” A esperança que a eleição de Barack Obama representa é muito forte. E é forte porque ela resulta de um sofrimento incomensurável anterior. As gerações mais novas talvez tenham alguma dificuldade em compreender o entusiasmo, o significado e a fé que tenho ao falar disto. Os anos 60, em termos históricos, ainda estão ali, ao virar da esquina. E naquela tarde de Agosto de 1963, nas escadarias do Lincoln Memorial, em Washington, King revelou que tinha tido um sonho mas estava muito longe de imaginar o que haveria de acontecer em Novembro de 2008.
Barack Obama e Caroline Kennedy representam, nos dias de hoje, esse sonho. Simbolizam a força interior de três grandes homens, todos eles assassinados à queima-roupa quando lutavam denodadamente contra a segregação racial e a favor de novos e mais adequados direitos civis. Essas mortes, e o enorme sofrimento que causaram, foram importantes para se conseguir chegar aos dias de hoje.
Mas o conferencista de Serralves, o fantástico e inspirador Mestre DeRose, também me tocou de outra maneira. A sua lição também se aplica a nós, simples mortais. “O Mau é a Semente do Bom.” Pois é, talvez ele quisesse transmitir outra coisa. Talvez ele quisesse dizer que o nosso sofrimento é sempre uma oportunidade. Uma oportunidade para nos tornarmos melhores."
Luís Quintino
domingo, novembro 16, 2008
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